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Saudade do tempo que eu era criança


Saudade de quando o maior dos meus problemas era como contar para minha mãe que eu tinha quebrado o jarro dela. Saudade de quando riam das minhas piadas mais sem graça e da voz mansinha com que falavam comigo. Saudade de ser bem tratada, de ter atenção, de ser uma gracinha. De acreditar que, pelo menos o velhinho, lembrava de mim todo ano e me levava um presente. Saudade de acordar cedo para assistir desenho e não para cumprir obrigações. Saudade de quando eu podia ficar até tarde na rua, sem medo de ser assaltada, sequestrada ou até mesmo atropelada.


Saudade do tempo em que os relacionamentos não acabavam por causa de curtidas no Facebook, do tempo em que eu nem sabia o que era relacionamento. Saudade de chorar pelo brinquedo quebrado ao invés do coração partido. Saudade do tempo em que conversa séria não se tornava ligação, onde saudade era morta com abraços e não com mensagens, onde as pessoas namoravam por amor e não para trocarem seus status nas redes sociais. O tempo em que, ao ocorrer um acidente as pessoas paravam para ajudar e não para filmar. Saudade do tempo que não existia vácuo porque víamos nossos amigos todos os dias e conversávamos com eles olhando em seus olhos. Saudade do tempo em que brincávamos na rua, uns com os outros, interagindo e fazendo amizades e não onde todos estão alienados, presos a um aparelho, naquele mundinho individual.


Saudade de quando eu conseguia ser eu mesma sem me preocupar com a opinião dos outros. Saudade de me vestir sem ter medo do que iriam achar da minha roupa. De comer sem culpa. De não precisar me preocupar com aparência. Saudade de não ser julgada. De ser sincera e não ser chamada de grossa. De não ter medo de não agradar. Saudade de dar risada atoa, de cantar alto, de gritar sem ser chamada de louca, de correr sem me cansar, de dançar na frente das pessoas sem me achar ridícula. De quando eu tinha medo dos monstros em baixo da cama e não dentro de mim. Saudade da época em que meu maior pesadelo acontecia quando eu dormia e não quando eu acordava. Saudade de quando as coisas eram mais fáceis, ou pelo menos pareciam mais fáceis. Saudade do tempo que era bom e ninguém sabia. Saudade de ser criança.


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Apenas dois sonhadores  cheios de planos e desejos, encontrando refúgio nas palavras e expondo seus pensamentos mais profundos com o objetivo de ajudar outras pessoas ou apenas viajar nas palavras e sair um pouco da realidade. Esperamos que você se sinta à vontade aqui! Pode nos chamar de Mia e Lukas. Se precisar conversar mande um e-mail para:

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