Mulheres

Mulheres. Desde pequenas lhe dizem como se vestir, como se comportar, o que usar no cabelo e o que fazer para sempre parecerem mais magras. Impõem-lhes padrões de beleza absurdos, e a maioria delas sacrificam-se para segui-los. Horas aguentando um salto alto numa festa, o qual deixa seus pés cheios de bolhas ao chegar em casa. Horas no espelho passando produtos e mais produtos no rosto para sentirem-se um pouco mais bonitas e suficientes para a sociedade, sem saber que são suficientes em sua forma mais natural. Horas no salão de beleza passando produtos que mais danificam do que embelezam os cabelos. Dietas malucas para conseguirem atingir o corpo perfeito, sem saber que o corpo perfeito é aquele que tem uma pessoa feliz dentro dele. Sacrifícios desnecessários que são feitos para atingir a perfeição impossível, apenas para manter a sociedade satisfeita. E aquelas, corajosas, que se opõem à isso, são criticadas e mal vistas.

As festas em família são sempre a mesma coisa, no final, os homens vão jogar bola enquanto as mulheres arrumam a bagunça, limpam a sujeira e guardam as sobras da comida que, anteriormente, também foi preparada por elas. E o dia-a-dia dentro de casa não é muito diferente, os irmãos geralmente ficam na sala assistindo TV enquanto as irmãs vão lavar a louça e limpar a cozinha. Já parou para pensar que não existe empregado doméstico, apenas empregadas mulheres? Onde está escrito que se o homem arrumar uma casa e lavar um prato a mão dele cai?

Tão cedo já são obrigadas a enfrentar os dramas da TPM, o sangramento mensal e as cólicas horríveis que, muitas vezes, não passam com analgésicos. São elas que suportam uma das piores dores existentes: a dor do parto. Isso, tendo anteriormente passado 9 meses com os pés inchados e os seis doloridos, carregando uma criança em seu ventre. E, apesar disso tudo, a grande maioria delas não abre mão da dádiva divina que é ser mãe.

Como se não bastassem as dificuldades naturais da vida, ainda é preciso enfrentar as dificuldades no meio social. Oportunidades de emprego que são vastamente ofertadas para homens e restritamente para mulheres. Mesmo emprego, mesmas funções e pelo simples fato de serem do sexo feminino são remuneradas de forma negativamente desigual em relação ao sexo masculino. A situação fica ainda mais complicada se você for uma mulher negra.

Ah, mas, com certeza, a pior parte disso tudo é não ser respeitada como deveria ser, como os homens são. É sair na rua com medo de ser assediada, de ser estuprada. É ser tratada como um objeto sexual, ser chamada de diversos adjetivos pejorativos. É não podem andar na rua com tranquilidade. É usar um short preocupada se vão olhar muito para suas pernas, ou deixar de mostrar o umbigo porque sabe que vai chamar a atenção dos caras na rua. É ter que ouvir piadinhas machistas sobre “onde é o lugar da mulher” como se elas não tivessem autonomia o suficiente para decidirem que o lugar delas é onde elas quiserem, e ainda ter que ficar calada sobre tais comentários, do contrário, sendo taxada de sem humor. É preciso lembrar que, quando sua “brincadeirinha” ofende ou constrange o próximo, não é apenas uma brincadeira, é desrespeito.

A imensidão de dificuldades e sofrimentos que as forças da natureza obrigam as mulheres a passar, é suportável, faz parte, e ninguém abaixa a cabeça ou desanima por conta delas. Mas, suportar imposição de padrões de beleza, padrões patriarcais, desigualdade social e desrespeito, pelo simples fato de sermos mulheres, não é obrigação de ninguém, muito menos, ver e ouvir todas as coisas e continuar calada ou imóvel. Chega de mulheres que correm atrás de seus direitos terem um dedo apontado em suas caras com alguém por trás gritando o vazio argumento: Isso é discurso de feminista - sem saber, ao menos, o significado dessa palavra.